domingo, 3 de março de 2013

Insanidade (Microconto)







Havia uma forma que o perseguia.
Possuía braços longos e pernas curtas demais para o seu tamanho. Seu sorriso era capaz de gelar o coração de um homem menos afortunado em suas virtudes.
E aquela coisa sempre sorria.
Toda vez que os olhos do rapaz se fechavam, a forma estava lá, tão alva quanto à neve que caia lá fora, seus grandes olhos vazios fitando-o ininterruptamente. Logo ele percebeu que a coisa crescia. Sempre que alguma adversidade acontecia em sua vida, aquela forma também aumentava de tamanho dentro de si e seu sorriso tornava-se igualmente maior. Um dia falou. Estava tão grande que ele mal conseguia ignorá-la martelando sua mente. Queria se libertar, sair.
Mas ele a segurava. Sabia que nada de bom aconteceria se aquilo escapasse de si, e, no entanto, por mais que ele a forçasse de volta, ela continuava crescendo e tomando para si pensamentos que ele antes julgava como seus. Cresceu tanto que ao fechar os olhos, seu mundo não era mais negro e sim tomado do branco doentio que a forma emanava.
Finalmente ela alcançou a borda da sua consciência e a arranhou impacientemente até se projetar para fora. Ele estava cansando, machucado. Não podia lutar mais com aquilo e por isso permitiu que saísse.
Sorria de orelha a orelha enquanto deixava um rastro de sangue atrás de si.


(conto e ilustração de minha autoria kkk) clique  aqui e visite meu deviantART

1 comentários:

Felipe.AG disse...

ótimo conto! Palavras bem colocadas que me levou a ter uma interpretação bem particular! Afinal todos nós temos momentos de insanidade, e todos nós convivemos com algo preso dentro de nossas mentes, que se liberado pode causar danos a nós e aos outros!

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